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sexta-feira, 20 de maio de 2011

The Modernity of Science (Niklas Luhmann)
Parte I

Alberto de Moraes Papaléo Paes

Neste artigo Luhmann tenta traçar um relação entre a modernidade da ciência em contraponto à sociedade. Inicia o texto apontando diferenças indicadas por Weber no que tange à modernidade para a sociologia, lecionando, que existem contingências históricas x regionais acerca do que é a modernidade para a sociedade.

“I the context of these data, one can at least begin to recognize that modern society produces its own newness (why does society has to be ‘new’?) by way of stigmatizing the old” (LUHMANN. 1994. Pág. 10).

Por este fato, a ciência conseguiu, por algum tempo, distanciar-se dos problemas semânticos da linguagem na modernidade (sociológica). Para Luhmann alguns momentos cruciais que definem o ponto de mutação são: 1) o desmembramento do “world of one’s father”, sua degradação como mera história o que impossibilita uma auto-descrição da modernidade na ciência; 2) o aumento do poder de persuasão de teorias auto-interpretativas que leva a diferenças irreconciliáveis. Para as ciências a modernidade está estritamente ligada a racionalidade (knowledge), e a partir da utilização de uma metodologia reducionista se chega a um novo grau de complexidade que somente aumenta o poder de dissolução ou põem a extensa e complexa coleção de conhecimento em sua forma mais clássica (Euclid, Newton).

“Such a concept, however, makes it difficult to recognize a connection between modern science and modern society. The factual contents of knowledge resist a historical as well as (for the same reason) a social-structural classification. And bivalent logic, together with the epistemology based on it, does not provide any alternative to this situation. If knowledge is true, it is always true (which, of course, does not includes the claim that the object of this knowledge must always have existed)” (LUHMANN. 1994. Pág. 10).

Somente com Thomas Kuhn é que se abadonam as verdades indefinidas decorrentes da historicidade do conhecimento (racionalidade). A partir daí o conhecimento científico vai se basear em diferentes “paradigmas”, e não mais em verdades decorrentes da história. Por conta disto Luhmann afirma que “we are dealing with a different paradigm whose claim to superiority can be formulated only by its own means. The constructivism of modern epistemology is grounded only in itself” (LUHMANN, 1994. Pág. 11).

O autor vai contraditar esta idéia com base na acepção de uma conexão entre a diferenciação funcional do sistema social (functional differentiation of the social system) a um construtivismo autoconsciente de ciência (constructivist self-understanding of science). A forma de diferenciação nas sociedades modernas fazem com que seja possível, ou ainda reforçam a idéia, de autonomia da separação funcional das áreas; isto se trona possível pela diferenciação de certas operações fechadas, sistemas autopoiéticos. Estas operações fechadas vão demandar que o sistema reflita sobre sua própria singularidade e insubstitutibilidade, mas também não se esquecendo do fato que existem outros sistemas funcionais do mesmo tipo na sociedade. Por isto acredita que o conhecimento é somente uma das formas de potência social dentro de várias outras (em particular o conhecimento avançado). A comunicação verbal pressupõe o conhecimento, dessa forma a sociedade não pode se comunicar (ou existir), sem a presença dele. O mesmo não se pode dizer do conhecimento avançado (expert knowledge), na medida em que a sociedade somente necessita dele de forma específica, não na autopoiese da comunicação como tal.

“In a peculiar way, scientific knowledge must stand its ground and take itself back; it must continue to produce new achievements and, at the same time, it must refrain from defining the world for society. To be sure, no one seriously doubts the descriptions of the world furnished by science, insofar as science itself trusts them. Nonetheless, the effect is virtually non-binding as far as other systems of communication are concerned” (LUHMANN. 1994. Pág. 11).

As designações, usualmente utilizadas, para explicar este estado de relações são o relativismo, o convencionalismo e o construtivismo. Para Luhmann elas podem ser sintetizadas em uma tese de perca (ou perda) de referencias (loss of reference). Tal tese expõe um conteúdo negativo, na medida em que se constrói a negatividade a partir de uma comparação histórica das premissas da ontologia metafísica, com os dogmas religiosos, seu “cosmos” de essência, seu conceito normativo de ciência que prescreve uma ordem correta (teoria mecanicista de natureza), mesmo que se aceite uma perda irremediável a partir desta atitude em relação ao mundo e se sinta compelido a alinhar-se com a relatividade e a contingencia com o caráter meramente hipotético e provisional de todo o conhecimento.

A partir desta concepção torna-se possível observar um descontentamento com a moderna cultura do conhecimento, talvez este descontentamento explique por quê não existe nenhum esforço em se refletir a modernidade específica da ciência hodierna, fato este que somente comprovaria o descontentamento. As discussões acerca da realidade/referência são atacadas por não trazerem nenhum cunho produtivo no resultado final. Não se pode considerar realidade fora da referência, assim como a realidade produzida a partir de um referencial pode ser mudada se considerada a manipulação do contraponto de referência. Por isso ele acredita que a sociedade moderna deve formular seu problema epistemológico de forma diversa.

Primeiramente, os problemas de referência e os problemas sobre a verdade devem ser claramente distinguidos. Segundo o sociólogo, uma lógica bivalente tem tentado (ou será forçado?) as pessoas a confundir as duas perspectivas. O único valor positivo que se possuí, “verdade”, também designado como “ser”, é, portanto, uma referência articulada. O contra-valor “não-verdade” somente vai servir de controle sobre o ato de referir, designar, clamar, reconhecer. Sobre esta proposição a Teoria da perda de referência aparece como perda da verdade, o que vai recair em um paradoxo “niilista”, na medida em que somente a não-verdade poderia ser considerada como verdade. Na verdade, a lógica não foi estruturada a fim de resolver questões mais complexas, desse modo, as relações sociais foram explicadas sob uma visão mono contextural de mundo.

A verdade pode ser interpretada como um código, ou seja, uma diferença intrinseca auto-referencial entre “verdade” e “não-verdade”. Já no caso da referência, Luhmann vai apontar a diferença entre auto-referência (referência interna), e referência externa. A primeira é definida como “the achievement of an observational designation. Each observation designates something (traditionally speaking: it has an objetc)” (LUHMANN. 1994. Pág. 13). O oposto de operação seria a designação, que é definida como “an objectless enactment” (LUHMANN. 1994. Pág. 13). Portanto, a auto-referência refere-se ao que a operação de “observação” decreta, enquanto que referência externa refere-se ao que foi excluído. Concluí-se, então, que o valor da realidade muda da designação (referência) para a destinção que é co-atualizada em cada designação lecionando o sociólogo que

“real is what is practiced as a distinction, what is taken apart by it, what is made visible and invisible by it: the world. And this holds for every distinction – for the distinction between self-reference and external reference as well for the distinction between true and untrue (LUHMAN. 1994. Pág. 14”.

Desse modo este raciocínio vai levar a produção de uma diferenciação das diferenças, o que se pode explicar pelo fato de que para a as operações de referência as designações podem ser tanto verdades como não-verdades, assim como que o que foi deixado de lado (referências externas), igualmente pode ser considerado como verdade e não-verdade, ao mesmo tempo; o que vai levar embora o privilégio cartesiano do “sujeito”. Estes são os argumentos suscitados na primeira parte do texto para a desconstrução da Teoria Sociológica Contemporânea.

LUHMANN. Niklas. The Modernity of Science. Translated by Kerstin Behnke. New German Critique. N. 61. Special Issues on Niklas Luhmann. Telos Press. 1994. 9-23.
Aguardem a postagem da Parte II.

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